quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Capítulo X

 Oscar Mendes Filho


O dia seguinte correu normalmente, pelo menos para Hanz que só foi saber do que ocorrera com o amigo na hora do almoço quando leu a notícia no jornal de uma banca.
<< JOVEM ESFAQUEADO NA SAÍDA DE BOATE >>
     A manchete chamou-lhe a atenção, mas só descobriu que tratava-se de Renzo ao ler o restante da notícia que nem chegou a ler o final pois ao ver o nome do amigo ele correu para o estacionamento onde estava seu carro.
     Ele mal podia acreditar naquilo e saiu rumo ao hospital.
     “Não tem como isso, quem ia acertar ele assim?” – Hanz não entendia como aquilo podia ter acontecido mas, como um raio, veio a lembrança do dia em que o amigo havia-o defendido. Um inigualável sentimento de culpa invadiu sua alma.
     Chegando ao hospital encontrou muitos familiares e amigos de Renzo e foi conversar com Bianca, quem mais conhecia.
     - Puts Bianca, eu só soube agora. O que foi que aconteceu?
     - Atacaram ele quando estava no carro, eram vários caras, não teve como ele se defender... – a garota não consegue falar mais pois o pranto a domina. Uma senhora vem ampará-la, provavelmente era sua mãe.
     Seus olhos também enchem-se de água, o sentimento de culpa parece ser insuportável.
     Um rapaz moreno aproxima-se.
     - E aí cara, eu sou o Paulo, amigo do Renzo, você deve ser o Hanz, tô certo?
     Com a cabeça o rapaz confirma a informação.
     - Vem comigo cara, vamos ali pra fora que eu te explico o que aconteceu. E não encana não, parece que ele não tá assim tão mal como aparenta, é que você sabe como é mulher... fica frio, o cara tá bem, dentro do possível.
     Hanz acompanha o rapaz que, por ser amigo de Renzo e pelos planos que faziam, também viria a ser seu amigo também.
     Um pouco mais calmo pelas palavras de Paulo ele pede mais informações sobre o amigo hospitalizado.
     - Segundo o médico ele recebeu três facadas nas costas, no ombro direito. Pra sorte dele elas não acertaram nenhuma artéria importante e nenhum órgão mas ele perdeu bastante sangue e teve que receber transfusão. Na verdade só precisaram suturar os ferimentos, não foi nada grave.
     - Pô... se foi só isso menos mal. Mas você sabe como foi?
     - Bom, a polícia pegou dois dos caras e parece que mais dois fugiram. Segundo dizem foi uma tentativa de assalto. Você conhece o Renzo né cara, ele não ia deixar barato...
     - O Renzo é foda, ele foi querer reagir, eu já tinha falado pra ele que isso é idiotice...
     - Olha, na boa, podem falar o que quiserem, mas essa versão da polícia tá por fora. Se eu conheço alguma coisa de bandidagem ainda, isso foi uma represália por causa daquele dia que tentaram assaltar vocês no aniversário da Bianca. Os caras não levaram nada dele, e outra, pra que juntariam quatro caras pra praticar um simples assalto? Nunca teve disso próximo à boate, sempre foi tranqüilo por lá
     Aquela afirmação atingiu Hanz como uma punhalada.
     - Então ele te contou desse dia.
     - É, ele comentou comigo sobre esse dia, mas fica na boa Hanz, ele vai sair dessa, daqui a pouco o médico dá alta pra ele, e você nem teve culpa de nada, pára de pensar nisso.
     - Valeu, mas isso infelizmente não impede que eu me sinta mal. E porra, do jeito que a Bianca tá parece que o cara tá morrendo... que merda.
     - Mulher é assim mesmo, se desespera por qualquer coisa, nem esquenta.
     Hanz dá um suspiro mais aliviado e prossegue.
     - Se a polícia conseguiu pegar dois dos caras não vai demorar muito pra descobrirem a verdade.
     - Com certeza, ainda mais por causa do Renzo, ele conhece um monte de policial, eles vão querer pegar todo mundo.
     - É, esses vagabundos não saem da cadeia tão cedo não e espero que a polícia pegue logo os dois que fugiram. O que me deixa mais puto é juntar um bando de cara pra pegar um só, é muita covardia isso.
     - Não é só você não cara, eu também fico, mas pelo jeito eles sabiam da fama do Renzo e foram com tudo pra cima. Garanto que se eles não tivessem com armas o Renzo acabava com eles, um desses que a polícia pegou tá bem detonado. Eu já vi cada coisa na boate que contando ninguém acredita, o Renzo é foda mesmo cara.
     - Se eu tivesse deixado o Renzo fazer o que queria com o vagabundo naquele dia hoje ele não estava aqui no hospital...
     - Sossega cara, não é hora pra pensar nisso, sossega.
     Hanz resolve dar um apoio aos pais do amigo e em seguida decide ir embora pois tem que voltar para o trabalho. Mais tarde ele retornaria para ter mais notícias.
     - Obrigado pela força Paulo, pena termos nos conhecido numa ocasião dessas, mas obrigado mesmo. Agora tenho que ir nessa...
     - Foi um prazer cara e não esquenta não porque não foi nada assim tão grave. Eu também tenho que ir, vou buscar o Rique na creche, e não esquece que temos muito pra conversar ainda.
     - Pode deixar, o esquema tá de pé, não se preocupe. – Hanz entende o recado.
     Após esse primeiro encontro os novos amigos seguem para seus afazeres. 
     Hanz tenta manter-se tranqüilo mas mesmo com o amigo estando fora de perigo o sentimento de culpa persiste.
     Retornando ao trabalho ele lembra-se de que não chegou a almoçar, mas apesar disso não sentia fome somente não conseguia se concentrar no trabalho pois aquele acontecimento não lhe saía da cabeça.
     “Se eu tivesse deixado o Renzo acabar com aquele filho da mãe isso não teria acontecido. Mas ainda bem que os ferimentos não foram graves, imagina se ele tivesse morrido? Eu enlouqueceria de remorso porque ele se meteu nisso pra me defender!!! O pior é que ele vai ficar muito chateado, o campeonato desse ano já era e por minha culpa!!”
     Mas ligando uma coisa à outra Hanz chega a uma conclusão muito curiosa em relação àqueles acontecimentos.
     “Eu nunca acordo de madrugada e essa noite eu acordei na hora em que Renzo foi atacado pelo jeito. Seria meu sexto sentido me alertando? E o episódio da noite anterior, o que eu vi e ouvi, será que era algum tipo de aviso? Mas que droga, se fosse pra me avisar porque não me disseram logo de uma vez sobre o que ia acontecer?”
     Definitivamente ele não conseguiria trabalhar no restante do dia, decidiu conversar com seu encarregado sobre o que ocorrera e pediu dispensa do resto do dia de trabalho.
     Resolveu passar novamente no hospital para ter notícias do amigo, era caminho de casa, e não pôde conter sua felicidade ao saber que ele já havia sido liberado para voltar pra casa.
     A primeira coisa que fez ao retornar foi ligar para a casa dele.
     O pai de Renzo atendeu ao telefone e informou que o filho dormia, estava tomando remédios para aliviar a dor e para evitar infecções. Havia recebido vários pontos e deveria repousar por alguns dias.
     Hanz pediu que lhe mandasse votos de melhora e dizer que o visitaria no dia seguinte.
     Estava muito feliz pelo estado de saúde de Renzo e também por constatar que aqueces últimos acontecimentos, trágicos e paranormais, estivessem ligados. Sendo assim ele havia obtido a resposta que procurava, o motivo pelo qual os acontecimentos estranhos tivessem ocorrido naquele dia que ele julgava não ter motivo algum para acontecerem.
     Pouco antes de iniciar sua jornada de estudos Hanz recebe o telefonema do mestre de Renzo que avisa-o sobre o fato de que usará seu próprio carro para efetuar a viagem pois não havia mais necessidade de um carro tão grande.
     Com toda aquela confusão Hanz havia se esquecido completamente desse detalhe.
     Em seus estudos daquela noite Hanz fez um relatório sobre suas últimas conclusões e não demorou muito para deitar-se embora não tivesse dormido tranqüilamente devido à bagunça que os gatos fizeram em seu quintal com a ausência de Ralf.
     “Droga de bichos infernais, deixa o Brutus chegar que a festa deles vai acabar!!! – foi seu último pensamento antes de adormecer”.

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