A semana
transcorreu normalmente com cada um envolvido em seus afazeres cotidianos,
logicamente, todos estavam ansiosos pela chegada do final de semana e pela
reunião tão esperada.
Na
segunda-feira Hanz foi até a delegacia conforme havia combinado com Renzo e fez
a denúncia da tentativa de assalto que sofrera. O delegado reforçou a
informação de que tão cedo o meliante não estaria nas ruas, o que deixou-o
tranqüilo embora ainda se preocupasse com os dois que haviam fugido.
No
meio da semana finalmente Brutus fora-lhe entregue, o cão realmente era muito
bonito e o treinamento que havia recebido correspondia bem às suas
expectativas.
Renzo
tomara ciência dos resultados obtidos por seus companheiros no campeonato, mas
não ficara satisfeito com as medalhas de bronze conquistadas, sabia que se
tivesse participado não deixaria escapar o ouro, mas não deixava transparecer
isso para eles, afinal, todos na academia eram como irmãos. Agora planejava sua
atuação no campeonato do próximo ano, demoraria, mas seria seu passo principal
para a conquista do título nacional.
Chegou
enfim o feriado, Hanz levantara-se relativamente cedo para ajeitar algumas
coisas, logo o pessoal começaria a chegar. Combinaram que fariam a reunião
aparentar uma simples festa entre amigos, o que não deixava de ser verdade,
assim jamais despertariam qualquer tipo de suspeita entre a vizinhança. Na
ocasião fariam um almoço e Hanz já preparava sua especialidade: pizza.
Renzo
foi o primeiro a chegar, estava animado com a reunião, brincava com Brutus
enquanto o amigo terminava seus afazeres culinários. Seus ferimentos já estavam
bem melhores e a ausência de dor era-lhe um grande alívio.
Chegaram
então Paulo e Cibele, haviam deixado Henrique com um parente dela e Hanz
finalmente pôde conhecer a namorada de Paulo, uma garota muito simpática que
felizmente inspirava bastante confiança.
Mas a
maior surpresa se deu com a chegada de Tatiana, não pela beleza peculiar da
moça, mas pelo fato de ela não ter vindo à reunião sozinha como fora combinado.
Paulo
estranhou ao ouvir o som do carro estacionando, pois conhecia a moça.
- Ué,
será que é a Tatiana que chegou Ci? Você nunca disse que ela tinha carro.
-
Pelo que eu sei ela só tem uma moto, será que comprou carro?
-
Calma pessoal, deixa eu ir lá ver quem é. – disse Hanz caminhando para a frente
da casa, sendo seguido por Paulo.
Ao se
depararem com Tatiana acompanhada por um rapaz Hanz olha para Paulo sem
entender nada, afinal, quem era aquele cara?
Cibele
é chamada pelo namorado, que vem na companhia de Renzo.
A
morena sai para falar com a amiga, afinal o casal estava presente ali por
intermédio dela.
Renzo,
Hanz e Paulo ficam irritados com o ocorrido, afinal de contas, aquela não era
uma reunião social e os assuntos que pretendiam tratar não permitiam a presença
de um estranho entre eles.
- Ah
fiote, solta logo o Brutus encima do cara e resolve logo o problema. – Renzo
tem o dom de fazer rir qualquer pessoa mesmo em situações complicadas como
aquela.
Cibele
volta para dentro da casa com as devidas explicações.
-
Olha gente, a Tatiana disse que entende a reação de vocês e pede desculpas pelo
clima chato, mas ela só resolveu trazer o amigo dela porque sabe que ele
partilha das mesmas idéias que a gente. Ela não tinha o telefone de ninguém pra
ligar avisando e disse que quando telefonou em casa ninguém atendeu... Além do
mais, segundo eles, a presença dele no grupo será muito útil porque ele é
ex-militar e tem acesso a alguns artigos de que precisaremos. O que vocês
acham?
Os
três ficam em silêncio, aquela era uma decisão que deveria ser pensada
calmamente e não decidida assim de
repente, mas a resposta deveria ser dada naquele momento. Os três se
entreolharam como se solicitando a opinião um do outro.
-
Porra, ela podia ter telefonado antes informando da intenção de trazer esse
cara né Cibele? Ela decidiu trazer o sujeito de última hora é? Agora com ele
aqui na porta da casa do Hanz como vamos dizer não pra ele? – fala Renzo.
- É
verdade Ci, mancada mesmo. Se dissermos que não e o milico sai correndo pra
cagüetar a gente. Ela ferrou com a gente porra, agora só dá pra aceitar o
cidadão e pagar pra ver. – comenta Paulo nervoso.
-
Calma gente, não é assim também. Vocês chamaram ela porque confiam nela não é
verdade? Pois então, se ela chamou o cara é porque ela confia nele, e se ele é
ex-militar mesmo vai ser muito útil pro grupo, ou alguém aqui conhece alguma
forma de obtermos artigos de que precisaremos para iniciarmos nossas
manifestações? Ela não chamaria alguém em quem ela não confiasse.
Os
dois entreolham-se ainda desconfiados.
-
Tudo bem, mas ela devia ter avisado antes, trazer o cara assim de surpresa foi
mancada. Por mim tá sossegado, não tem outro jeito mesmo... – fala Paulo.
-
Bom, o que vocês decidirem pra mim tá beleza. É com vocês, se vocês acham que
não tem problema por mim tá tudo bem... – opina Renzo.
-
Vamos lá buscar os dois. – fala Hanz fazendo sinal para Cibele.
Após
as devidas apresentações todos em pouco tempo acabam se enturmando, até mesmo
Jean que de início parecia pouco a vontade devido ao ocorrido já estava mais
sossegado entre eles.
Tatiana
havia chamado a atenção de Hanz devido à sua beleza mas este não cogitava
nenhum tipo de atitude especial em relação à ela pois não sabia ainda que tipo
de relação a garota mantinha com o amigo que trouxera e também por ela não
fazer bem o tipo dele, que preferia o estilo mais “tradicional”, coisa que
Tatiana estava bem longe de ser.
-
Algum de vocês se importa se eu fumar? – indagou Jean.
O
pessoal não se importou com isso, com exceção de Renzo, que fez uma ressalva.
-
Por mim tudo bem, mas se você puder
evitar jogar fumaça em mim eu agradeço. – ele não havia simpatizado nada com
Jean, isso era evidente.
-
Pode deixar grandão, não vou incomodar você não. – arrematou Jean já apanhando
seu maço de cigarros.
Conversavam
animadamente sobre assuntos diversos enquanto aguardavam as pizzas ficarem
prontas.
Pareciam
evitar um pouco o assunto que motivou a reunião para não dar um ar tão sério àquela
reunião, provavelmente deixariam a conversa para depois do almoço.
Após
a refeição todos foram para a sala, satisfeitos, e agora podiam iniciar a
reunião propriamente dita.
-
Olha fiu, não me leva a mal não, mas nunca imaginei que você cozinhasse bem
assim... – elogia Renzo.
- Que
é isso meu, nem sei cozinhar não, pizza é uma das poucas coisas que eu faço, eu
em casa só como congelados e alimento instantâneo, sou um desastre na cozinha.
Vida de solteiro não é fácil não.
- O
Paulo também era assim quando morava sozinho, mas devo te parabenizar Hanz, a
pizza estava boa mesmo. – continua Cibele abraçada ao marido.
Jean,
que juntamente com Tatiana completam os lugares do sofá, inicia o tom mais
sério da conversa.
-
Olha pessoal, eu sei que vocês pouco me conhecem e isso é recíproco, por isso
gostaria de saber um pouco mais sobre vocês porque o que estamos dispostos a
iniciar é coisa séria. Não me levem a mal, espero que entendam minha posição.
-
Qual é a sua fiu? Todo mundo aqui se conhece, se tem aqui alguém que devemos
conhecer esse alguém é você!! – confronta Renzo irritado com a desconfiança.
-
Sossega Renzo, deixa o cara, acho normal ele querer alguma garantia, afinal,
como ele mesmo disse, nosso lance aqui não é brincadeira. Nós já nos
conhecemos, ele tem o direito de querer saber um pouco mais sobre a gente e
vice e versa. Mas fala aí Jean, o que você quer saber? – intervém Hanz sentado
na poltrona próxima à porta.
- Não
me leva a mal Hanz, mas o estilo de vida que você leva não parece dar-lhe
motivos para revolta, olha o carro que você tem, a casa... Enfim, não me parece
alguém que se preocupe com os assuntos que vocês dizem estarem dispostos a
exigir mudanças...
-
Porra fiu, cala essa boca pô!!!! Quem é você pra julgar alguém aqui? A idéia do
grupo foi iniciada por nós dois, quer mais o quê? Se não formos de confiança
quem aqui é então? – a antipatia que Renzo sentia por ele se acentuava ainda
mais.
Antes que Hanz responda, ele se defende.
-
Calma aí grandão, não estressa rapaz. Não vim aqui pra brigar com ninguém não,
apenas quero tirar algumas dúvidas, nada mais que isso. Preciso saber se posso
contar com todos aqui até o final, aconteça o que acontecer. Faz algum tempo
que procuro pessoas interessadas em mudanças, e graças à Tati estou conhecendo
vocês, mas quero apenas saber mais um pouco sobre seus pontos de vista, seus
planos, essas coisas... Quero ter a garantia de que todo mundo aqui pretende
seguir até o final e não desistir quando aparecer o primeiro aperto entende?
Não fiquem pensando que vai ser moleza porque não vai ser não.
-
Olha Jean, concordo com você nisso. No começo todo mundo tinha essas dúvidas,
tivemos que conversar muito até decidir fazer essa reunião e iniciar a
atividade em questão, só não acho legal você julgar alguém aqui pelo nível de
vida. Você acha que só porque o Hanz tem uma vida legal ele não pode se
interessar no movimento? Acho que qualquer pessoa com bom senso, independente
de ter ou não grana, percebe como as coisas tão erradas no país. O cara não
precisa passar fome pra enxergar isso. – argumenta Paulo.
- É
isso aí meu, quem me vê logo pensa que eu seja um playboyzinho babaca como
tantos que existem por aí, mas se enganam. A única coisa que herdei do meu pai
foi essa casa, tudo o que tenho é fruto do meu trabalho e de alguns segredinhos
de computador. Eu me revolto tanto quanto qualquer pessoa aqui, e sempre tive
essa ânsia de fazer alguma coisa pra mudar essa situação caótica, agora
felizmente encontrei pessoas com essa mesma disposição e espero poder contar
com todos igualmente para trabalhar nisso.
Renzo,
que desconhecia esse último fato, espanta-se com o amigo.
-
Nossa, então temos um hacker no grupo e eu nem sabia!!! Se eu soubesse disso
antes teria te pedido uma ajudinha financeira.
Todos
caem na gargalhada, Renzo realmente tem esse poder.
- O
time parece que tá completo então. Um tem os contatos, outro entende de
computador e todos tem coragem e vontade de mudar as coisas. Não
poderia ter um grupo melhor. – fala Tatiana.
-
Olha gente, realmente eu acho que temos tudo para dar certo. Só temos que ter a
certeza de que todos que se dispuserem a fazer parte do grupo seguirão firmes
até as últimas conseqüências, caso contrário é melhor esquecer a idéia porque
com certeza não será nada fácil e os integrantes podem vir a se complicar caso
alguma coisa não saia conforme planejado. A confiança entre os membros tem que
estar acima de tudo. – completa Cibele.
Um
breve silêncio se faz na sala, parece que todos entendem o quanto o assunto é
sério e nenhum deles parece estar disposto a desistir.
Jean
acende mais um cigarro.
-
Tudo bem então, desculpem a ansiedade, é que como não conheço bem o pessoal eu
fico com o pé atrás, mas percebo que todos estão realmente dispostos a seguir
com isso e fico feliz em integrar um grupo assim unido e de objetivos
relevantes. De uma coisa podem ter certeza, podem contar comigo pro que
precisarem.
- Ok
Jean, não esperamos nada além disso de você ou de qualquer outro aqui no grupo. Mas já que
todos estão cientes das responsabilidades adquiridas ao ingressar nesse projeto
acho que tá na hora de começarmos a planejar o que faremos, quando e como, mas
só pra reforçar a união do grupo creio que seja interessante mesmo cada um
comentar sobre seus motivos pessoais e sobre suas expectativas em relação às
ações do grupo. – finaliza Hanz.
-
Concordo contigo fiote, é hora de colocar a mão na massa. Mas também não vejo
mal nenhum nessa apresentação, afinal, apesar da amizade, é importante que a
gente conheça isso. Sempre é bom saber o máximo possível sobre as pessoas,
principalmente em relação à um assunto assim tão sério. – concorda o
grandalhão.
Cada um passa então a comentar sobre os motivos
que os levaram a interessar-se pela formação de um grupo cujo objetivo é forçar
mudanças no panorama nacional.
Sobre
alguns membros já conhecemos seus motivos, então torna-se desnecessário relatar
novamente as palavras dessas pessoas, mas sobre Jean e Tatiana não sabemos
muita coisa.
-
Como já é do conhecimento de vocês eu sou ex-militar, servi o exército durante
cinco anos e devido à um acidente que tive fui obrigado a me aposentar. Hoje
vivo dessa aposentadoria, que me permite ter uma vida sossegada em relação à
dinheiro e também me dá a oportunidade de acompanhar a seqüência de
acontecimentos que vem assolando o país e até mesmo essa cidade que até algum
tempo atrás era tranqüila e sossegada. Hoje até cidades interioranas como a
nossa estão conhecendo a face nefasta da violência e da corrupção. Uma
andorinha só não faz verão, como diz o ditado, e sempre procurei encontrar
pessoas dispostas a fazer alguma coisa pela mudança dessa situação, mas
dispostas de verdade e não apenas da boca pra fora como tantas que vejo por aí.
Tatiana, que conheço já a algum tempo, comentou comigo que haviam planos para a
criação de um grupo com esses propósitos, de imediato eu me interessei, e hoje
estou aqui. Nunca fui casado e não tenho filhos, de forma que não tenho muito a
temer em relação à vida, mas gostaria de fazer alguma coisa pela melhoria dessa
situação, sempre tive esse anseio, mas nunca tive a oportunidade.
Todos
ouvem atentamente as palavras de Jean, em seguida, é Tatiana que relata seus
motivos particulares.
-
Bom, eu sou solteira e também não tenho filhos. Meus amigos mais próximos
conhecem meu passado, sabem que tenho um pai que mora em outro estado e que
tive um irmão assassinado anos atrás. Minha revolta se iniciou a partir de
então. Os assassinos do meu irmão jamais pagaram pelo crime que cometeram
porque os pais deles têm dinheiro. Foi em uma briga num show, os caras se
juntaram e agrediram ele com barras de ferro, chutes e socos. Ele ficou
internado uma semana por causa dos ferimentos e não resistiu... faleceu. É por
isso e também por todas essas coisas erradas que estamos cansados de ver todo
dia que eu passei a ter essa vontade de mudar as coisas. Já comento sobre isso
com o Jean faz tempo, sobre essa minha vontade, conheço ele fazem anos já.
Todos devem pagar pelo que fazem, independente de terem dinheiro ou não. É por
isso que aceitei o convite da Cibele... – seus olhos estavam cheios d água,
realmente a perda do irmão ainda doía-lhe bastante.
Fez-se
um longo silêncio na sala, todos refletindo sobre suas vidas e sobre o caminho
que haviam percorrido em suas vidas até chegarem ali.
-
Como podemos ver, motivos todos tem de sobra pra estar aqui hoje. – comentou
Paulo.
-
Pelo que parece os problemas que causam indignação são quase os mesmos em
relação à todos nós. Mas com relação à qual deles agiremos inicialmente? Temos
que ter um alvo primário, não dá pra abraçar o mundo. – esse comentário de
Renzo faz com que cada um argumentasse sobre seu ponto de vista, mas parecia
ser difícil chegar num consenso.
Movimentos
em prol da reforma agrária, em prol da melhoria da segurança pública, reformas
na previdência, investigações sobre acusações de corrupção no governo,
submissão do país em relação à outros de maior poderio econômico... enfim, a
gama de assuntos era bem variada e a maioria já tinha quem se destinasse a
lutar por esses ideais, mas infelizmente a maneira como o faziam não estavam
dando resultado satisfatório. Alguns grupos estavam metendo os pés pelas mãos,
manipulados por forças que distorciam os objetivos primordiais desses grupos.
-
Seja qual for o alvo inicial de nossas manifestações, gostaria que soubessem
que já tenho um plano elaborado, embora ele necessite de inúmeros acertos e que
os detalhes ainda sejam estudados com calma, gostaria que o conhecessem.
- Que
bom Hanz, mas antes de mais nada acho que devemos elaborar nossas ações com o
máximo de cuidado para que ninguém se machuque, isso jogaria a opinião pública
contra nós. Devemos conseguir exatamente o contrário, devemos ter o apoio do
povo. – comenta Paulo.
- Além
de não fazer parte de nossos planos matar pessoas inocentes, esse ponto é
indiscutível no grupo, é bom que todos saibam disso. Nada de mortes. – reforça
Renzo.
Todos
concordam com essa idéia.
- Mas
não tem como ter uma total garantia de que nenhuma pessoa vai se machucar, ou
tem? – indaga Tatiana.
- Cem
por cento infelizmente não Tatiana, mas o risco de acontecer algum acidente tem
que ser minimizado. Só participo do grupo se todos estiverem de acordo com
isso. – responde Hanz olhando dentro de seus olhos.
Há
uma breve troca de olhares entre eles,e por um momento Hanz sente algo
diferente. Infelizmente a garota desvia seu olhar para Jean, que prossegue com
a conversa em meio à baforadas em seu cigarro. Isso faz com que esse sentimento
desapareça.
- Ok
então, isso está mais que aprovado, mas qual o plano afinal Hanz?
-
Creio que a melhor maneira é a seguinte: enviamos algum tipo de correspondência
à imprensa e às autoridades de forma que ela chegue à seus destinos logo após a
ação ser efetivada. Carta, e-mail, algo do tipo. O ataque se daria de maneira
sincronizada em vários pontos para que o risco de sermos pegos seja anulado. Um
ataque simultâneo em diversos pontos deixaria a polícia desnorteada, o que nos
ajudaria. A ação seria feita com algum tipo de artefato caseiro, apenas para
assustar mesmo, creio que seria o suficiente, ainda mais que não dispomos de
nada mais moderno no momento...
-
Sim, é uma idéia interessante, mas pra que a correspondência? – indaga Cibele.
-
Para justificarmos as ações e dar maior ênfase aos nossos atos. Nelas
explicaremos os motivos de nossa revolta, os motivos das ações. Sem que a
população saiba disso não há porquê agirmos. – responde Hanz.
- É,
senão ninguém vai saber pelo quê a gente tá se manifestando. – reforça Renzo.
- É
um plano bom, mas pra que usarmos artefatos caseiros se o Jean pode conseguir
um material bem melhor? Sem contar que fazer
as bombas seria bem mais demorado e perigoso. O Jean pode conseguir o
que precisamos – acrescenta Tatiana.
-
Nisso eu sou obrigado a concordar. Mas eu acho que quanto menor for o risco de
descobrirem a gente é melhor, isso é óbvio. – acrescenta Renzo.
-
Isso eu sei Tatiana, mas quando elaborei o plano não tinha em mente que teria
alguém no grupo que seria capaz de conseguir esse material pra gente, mas já
que agora há essa possibilidade, melhor ainda.
- Não
apenas posso conseguir como até já tenho alguma coisa comigo. É como se eu
sempre soubesse que algum dia as usaria, e essas serão por minha conta, será
minha colaboração ao grupo. Caso no futuro haja a necessidade de conseguirmos
mais daí é só conseguir a verba que eu providencio o restante. Creio que com
esses seus truques no computador isso não seja difícil Hanz. – declara Jean.
- A
coisa não é assim tão simples, envolve alguns riscos, mas se realmente for
necessário eu dou um jeito nisso. Alguém aceita um suco, uma água ou um
refrigerante? – oferece o dono da casa.
Logo
Hanz retorna com algumas latas de refrigerante e as distribui entre o grupo.
-
Hanz, confesso estar impressionado com todos vocês, a união de vocês é
surpreendente. Jamais alguém poderá desconfiar de alguma coisa, pois são todos
pessoas simples, sem antecedentes que deixem rastros... mas gostaria de
comentar esse plano que você fez. – elogia Jean.
-
Claro meu, pode falar, aqui todos somos iguais, ninguém é dono da verdade. Tudo
será feito após a aprovação de todos, pode falar.
-
Ótimo. Pois bem, provavelmente os alvos das ações serão prédios com alguma
notoriedade, a prefeitura e lugares do tipo, só que esses lugares possuem um
sistema de vigilância mais reforçado. Então acho que seria prudente, num
primeiro momento, que poucos instantes antes desses alvos serem atacados, um
alvo simples, distante dos locais principais, fosse atingido. Dessa forma, com
todas as atenções voltadas à esse primeiro alvo, os alvos principais estariam
mais desprotegidos, o que acham?
Uma
pausa para reflexão e Paulo continua.
-
Entendi, vamos desviar a atenção da polícia para que os alvos principais, que
são mais protegidos, fiquem mais vulneráveis à nossa ação.
-
Exatamente, enquanto eles correm para averiguar o primeiro alvo, atacamos os
outros, que com certeza terão uma repercussão maior, serão alvos mais
importantes, que abalarão mais a opinião de todos, os verdadeiros alvos no
caso. – finaliza Jean.
-
Muito bom, e aqui no interior, como nunca acontece nada desse tipo, a polícia
com certeza ficará sem saber o que fazer e até se organizarem já estaremos em
segurança, bem longe. – fala Tatiana.
Todos
concordam com o plano embora tenham um olhar apreensivo no rosto.
- Mas
devemos ter um sistema de comunicação seguro e o sincronismo tem que ser
perfeito. – fala Cibele.
-
Isso é o de menos, todos possuímos celulares, que são mais seguros que
comunicadores pois não podem ter sua freqüência interceptada. E quanto à
sincronia é só utilizarmos relógios sincronizados, isso é o de menos, não tem
mistério. Com isso não precisamos nos preocupar. – fala Hanz.
- Até
aí tudo bem, mas e a correspondência? Pelo correio não dá porque elas devem
chegar aos endereços na hora certa e desse jeito não tem como isso acontecer e
por e-mail podem identificar seu IP e chegarem até você. – Tatiana parece
pensar em tudo.
-
Quanto à isso também não há problema, eu já tinha pensado nisso. Eu envio
e-mails mesmo, crio um endereço de
e-mail gratuito com dados falsos, coisa mais do que simples, e quanto ao meu
IP, eu possuo um programinha desenvolvido por um colega meu da capital que
mascara o número. Eles jamais chegarão até o remetente da correspondência, sem
contar que o envio pode ser programado de forma que chegará aos destinatários
no horário escolhido. Quanto à isso não se preocupem, eu sei como fazer.
Todos
ficam impressionados pela forma como Hanz já tinha tudo devidamente planejado
em relação ao seu plano, ele demonstra uma segurança invejável quanto à
computadores.
-
Quanto à isso parece que está tudo certo, mas a questão é: daremos início às
nossas ações baseados em qual conceito? Vamos agir em prol da preservação do
mico rosado com traseiro violeta do sul de Madagascar? – indaga Cibele, rindo.
- Boa
Ci, gostei dessa!!!! - Renzo não se agüenta e acaba caindo na gargalhada
também. Os demais dão um sorriso, mas se esforçam para manter a seriedade da
reunião.
- É
só a gente conversar, são vários os parâmetros a serem abordados, mas não dá
pra abraçarmos todos de uma vez só. – fala Paulo.
O
grupo inicia então a exposição de seus argumentos em relação ao assunto, a
diversidade de aspectos é grande e após quase meia-hora de conversa acabam
chegando a um denominador comum.
- É
pessoa, realmente tem muita coisa errada nesse país e parece que tudo está
interligado, uma coisa leva à outra, mas temos que ter um ponto de partida.
Cada um será abordado ao seu tempo, mas conforme decidimos o ponto de partida
será a submissão do país em relação ao poder estrangeiro, que acaba
repercutindo no governo, nas leis e na vida do país em geral. E sobretudo esse
é um tema que, ao ser atacado, desagradará somente os governantes do país e não
abrirá portas para que a população se volte contra nós, desde que tudo seja
feito conforme o combinado, sem mortes. Ao meu ver, esse ponto é que dá início
à todos os demais, não sei se todos concordam com isso.
-
Estou de acordo Hanz, se tivermos a opinião pública do nosso lado já teremos
muitos pontos ao nosso favor. Com o tempo iremos abordando outros temas. Vamos
devagar, uma coisa de cada vez. – concorda Jean.
- É
isso aí fiote, vamos lutar pela independência econômica e cultural do nosso
país!! – exclama Renzo um tanto revolucionário como se Che Guevara tivesse
encarnado nele naquele instante.
- Os
gringos querem fazer da América Latina uma colônia deles, querem submeter não
só nosso país como todo o planeta às leis deles. Se os outros países não
estufam o peito e os encaram de frente o problema é deles, vamos mostrar que no
nosso país quem manda somos nós, o povo. – afirma Paulo.
- O
governo que elegemos sempre dizia ser rebelde à esse autoritarismo e no entanto
não demonstra isso em suas atitudes. Temos que mostrar que nosso país tem poder
e que não nos sujeitaremos à suas imposições e nem concordamos com essa atitude
submissa do presidente. – acrescenta Cibele.
-
Eles me dão nojo, saem pelo mundo afora atacando e invadindo outros países
falando mentiras encima de mentiras só com o intuito de tomarem a riqueza
deles. Eles se acham os donos da verdade e ninguém toma a frente pra
encará-los, todos baixam a cabeça... – finaliza Tatiana.
O
grupo estava formado, já tinha suas diretrizes e seus planos de ação
estipulados, só faltava agora tudo ser colocado em prática.
Estavam
eles certos ao decidirem fazer isso? Essa pergunta deveria ser feita à todos
aqueles que tiveram parentes mortos e não viam a justiça ser feita, ou às
vítimas da miséria que viam filhos seus morrerem doentes ou famintos diante de
governantes preocupados somente em fazer crescer o valor da sua conta bancária.
Não
havia dúvida que o medo estava presente em todos do grupo, mas esse medo
haveria de ser vencido para que pudessem colocar em prática tudo aquilo que
estavam planejando.
Como
já fora conversado, ninguém se machucaria, as ações do grupo teriam o objetivo
de chamar a atenção das autoridades, nada além disso.
Mesmo
todos, com exceção de Jean, serem civis comuns, concordavam que estava na hora
de dar um basta à situação caótica em que o país estava mergulhado, e agora que
haviam se conhecido poderiam fazer alguma coisa para mudar tudo isso.
Ausência
de medo é burrice, o verdadeiro corajoso é aquele que vence o medo.
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