- Esses desgraçados não desistem!! –
resmungou Paulo raivosamente percebendo que Jean e Renzo não desistiam da
perseguição que já durava quase vinte minutos.
Já em um bairro bem distante de onde ela se
iniciara onde, como não podia ser diferente, as ruas estando totalmente
desertas e as casas silenciosas, ele resolveu partir para o tudo ou nada.
- Eles querem acabar comigo é? Eles acham que
conseguem isso? Vamos ver se eles conseguem mesmo... – disse Paulo encostando
seu carro em frente à um terreno baldio.
“Ele tá parando, vai tentar fugir a pé!!!” –
pensou Jean ultrapassando-o e cruzando seu carro em frente ao dele de forma a
impedir que arrancasse novamente.
Renzo estacionou um pouco mais atrás,
afastado, provavelmente temia ser alvejado por aquele que até então sempre
demonstrara ser um grande amigo.
“Tenha juízo fiote, não vá fazer nenhuma
besteira, por favor.” – pensou ele descendo de seu carro.
Paulo não tinha para onde fugir, Jean e Renzo
o haviam cercado, mas para a surpresa dos dois ele não descera do carro.
- Sai do carro com as mãos onde eu possa ver
cara!!! Não tente nada, essa palhaçada acabou!! – gritou Jean apontando-lhe a
pistola. Nesses instantes era possível perceber que Jean sempre dissera a
verdade, ele realmente tinha treinamento militar.
- Vamos ficar calmos pessoal. Não tem porque
usar de violência, vamos ficar na boa!!! – gritou Renzo também apontando sua
pistola, mas em sua voz podia-se perceber hesitação e medo.
- Esse aí sempre foi um otário... – disse
Paulo percebendo os sentimentos dele, sempre resmungando estranhamente, abrindo
a porta do carro.
A tensão daquele instante era inigualável,
qual seria a reação dele? Jean e Renzo sabiam que ele estava totalmente
perturbado e não sabiam se ele havia tomado consciência de sua situação ou se
ainda tentaria alguma coisa.
- Calma Jean, fique calmo cara!! – gritou
novamente Renzo tentando evitar que o amigo disparasse contra Paulo pois sabia
que ele não hesitaria em fazer isso.
Paulo lentamente desceu do carro e virou-se
para Renzo, infelizmente com a arma na mão, mas sem apontar para ninguém,
somente para o chão.
- Eu falei pra você soltar a arma Paulo!! –
gritou Jean que tinha sua mira dificultada pela porta do carro.
Ainda que a distância entre eles todos fosse
razoável, Renzo pôde perceber o olhar raivoso do amigo e o sorriso sarcástico
que jamais abandonara seus lábios.
- Renzo, meu grande amigo, não acredito que
você esteja apontando essa pistola pra mim. O que deu em você cara? – disse o
transtornado rapaz.
“Que diabo tá havendo? Ele tá muito estranho,
nem parece o Paulo que eu conheço...” – pensou ele sem baixar a pistola.
- Solta essa arma no chão Paulo, não tente
nada, você tá na minha mira!! Solta logo ou eu acabo com você agora!! – gritou
Jean detrás dele.
- Calma Jean, ele não vai fazer nada!! –
gritou Renzo ainda esperançoso de que tudo se resolvesse sem o uso de
violência.
Todas as pistolas estavam munidas de
silenciador, o que evitaria alarmar todos os moradores próximos, mas ele
aumentava mais o tamanho delas de forma que atribuía-lhes um aspecto ainda mais
agressivo.
Renzo estava trêmulo, jamais havia se
deparado com uma situação como aquela. Temia que o amigo fizesse alguma
besteira e acabasse machucado, mas temia também por sua própria vida. Um rápido
filme veio-lhe à mente: imagens de seus pais, de Bianca e também as de Cibele e
de Henrique...
- Todos estamos calmos Renzo. Não tô
entendendo o porque de tudo isso, abaixe essa arma pra podermos conversar cara.
– disse Paulo.
Renzo queria acreditar nas palavras do amigo
mas seu estranho tom de voz denunciava que ele ainda não estava em seu estado
normal.
Jean lentamente começou a se aproximar de
Paulo pelas costas, provavelmente tentaria desarmá-lo, o que poria fim a tudo
aquilo. Renzo percebeu isso e passou a distrair o amigo.
- Solta sua arma que eu abaixo a minha Paulo.
Ninguém aqui quer machucar ninguém fiote, somos todos amigos. Faz o que eu tô
te pedindo...
- Ninguém quer machucar ninguém? Então por
que esse filho da mãe tá vindo pra perto de mim? Vocês querem me ferrar!!! –
gritou Paulo enfurecido.
Nesse exato instante Jean deteve-se, como era
possível Paulo saber que ele se aproximava? Agora a esperança de que tudo
terminasse bem havia se acabado, Paulo havia perdido a confiança em Renzo.
- Não Paulo, ninguém quer ferrar ninguém,
fica calmo fiote!!!
Mas Paulo começou lentamente a se virar para
Jean, seus olhos de ódio denunciavam que ele não se entregaria.
- Fica parado cara, fica parado!! – gritou
Jean abaixando-se para esconder-se atrás do carro de Paulo.
- Não vira Paulo, não vira!!! Faz o que ele
tá mandando!!! – gritou Renzo sabendo que Jean efetuaria os disparos. Tudo o
que ele não desejava infelizmente estava prestes a acontecer.
- Ninguém manda em mim cara, ninguém!! –
gritou furiosamente Paulo virando-se rapidamente e disparando na direção de
Jean.
Por sorte ele estava em segurança atrás do
carro e Paulo calculou errado o posicionamento
do rapaz, disparando para bem longe dele.
A cena que se seguiu jamais sairia da mente
de Renzo: Paulo não tivera a mesma sorte e Jean, mesmo com a porta
atrapalhando-lhe a mira, atingiu três disparos em seu peito, arremessando-lhe
ao chão. A pistola que o amigo portava
foi arremessada longe e seu som metálico atingindo o chão parecia ecoar em sua
cabeça como um gigantesco sino.
- Não!! Merda... Paulão!! – gritou Renzo
correndo aterrorizado em sua direção.
Jean levantou-se impassível, para ele Paulo
nada mais era que um inimigo abatido e observava-o tentando certificar-se que o
impasse havia chegado ao seu final.
O rapaz não soltara nem um grito ao ser
atingido e mesmo estando no chão não se ouvia um gemido sequer, mas ele estava
vivo, pois movimentava seus braços como que procurando levantar-se.
Renzo guardou sua arma atrás da cintura e,
com lágrimas nos olhos, ajoelhou-se ao lado do amigo na tentativa de
socorrê-lo.
- Paulo, mas que merda cara, por que você fez
isso fiu? Por que não fez o que nós mandamos você fazer porra?? – gritou ele
erguendo a cabeça do amigo.
O olhar diabólico e o sorriso sarcástico
haviam desaparecido de seu rosto. Banhado em sangue e com muita dificuldade ele
ainda conseguia falar.
- Caramba Renzo, isso dói muito cara. Você tá
bem? – ele parecia não se lembrar de nada.
Choramingando e sorrindo nervosamente Renzo
tentava remediar a situação.
- Tô cara, eu tô bem sim. Nós vamos te levar
pro hospital e você também vai ficar fiu. Por que você fez isso, por quê?
- Não sei, faz uma coisa pra mim meu amigo:
pede desculpas pra Cibele por mim, fala pra ela que eu a amo muito, ela e o
Rique, eu amo muitos os dois. – disse ele engasgando com seu sangue e com
lágrimas escorrendo de seus olhos.
Jean já estava ao lado deles, em pé, e por
mais que tentasse manter-se firme a frase de sua vítima fez com que lágrimas
brotassem também de seus olhos.
- Você vai ficar bem fiote, pára com isso,
você ainda vai ver o Rique casar e te dar netos que vão te encher o saco...
O olhar do amigo já estava se perdendo pela
escuridão do céu estrelado, mas ele parecia lutar para vencer a morte.
- Não cara, eu sei que não. Mas pelo menos
esse inferno todo acaba aqui. Cuida deles pra mim tá cara? Peça pra Cibele me
desculpar, eu jamais quis machucar ela...
Por mais que Renzo lutasse contra essa idéia,
ele sabia que o amigo estava em seus últimos momentos. Não havia tempo para que
o amigo fosse socorrido.
Jean se aproximou e colocou a mão no ombro de
Renzo.
- Cara, temos que sair daqui. Desculpa cara,
não teve outro jeito, infelizmente não teve. Vamos fazer uma limpa no local e
sair fora. A polícia pode aparecer, se pegarem a gente aqui tamos ferrados. –
sua frieza era impressionante mas compreensível, ele não conhecia Paulo como o
rapaz que via o amigo soltar seus últimos suspiros.
Na casa de Hanz, ele e Tatiana que estavam
conversando na cozinha e foram surpreendidos por Cibele, que até então estava
deitada por orientação do rapaz que pediu que ela o fizesse para acalmar-se.
- Aconteceu alguma coisa!! Aconteceu alguma
coisa com o Paulo!! – gritava Cibele descontrolada, em lágrimas.
- Calma Ci, deve ter sido um sonho, por
favor, fique calma amiga!! – adiantou-se Tatiana.
- Não, eu não estava dormindo. Por favor
Hanz, ligue pros rapazes, perguntem sobre o que está acontecendo, por favor!!
Hanz apressadamente foi até a sala para fazer
a ligação, mas seu telefone estava mudo.
- Estranho, meu telefone não está dando
linha...
- Pegue meu celular no quarto Hanz, pode usar
o meu. – disse Tatiana segurando as mãos da amiga, que tremia de nervoso.
- Ok, aproveito pra avisá-los sobre a
polícia. Eles não podem mudar a versão que eu dei se forem pegos, se isso
acontecer estamos ferrados... – Hanz não havia ainda tomado essa precaução por
temer atrapalhar seus amigos que provavelmente deveriam estar em uma difícil
situação, mas era fundamental que o fizesse.
O celular de Renzo tocou mas como estava
dentro do carro não foi ouvido. Em seguida foi a vez do de Jean.
- Fala Hanz, tá tudo bem por aí? Eu tô meio
atrapalhado aqui agora... – disse Jean ainda observando Paulo em seus últimos
espasmos.
- Eu imagino que sim meu, mas só me diz se tá
tudo bem por aí. A Cibele tá com um péssimo pressentimento, o que tá
acontecendo? – disse ele rápida e nervosamente temendo atrapalhá-los.
- Não fala nada cara, mas o Paulo tá pra
morrer. Infelizmente tive que acertar ele. – respondeu friamente já
afastando-se do moribundo e de Renzo.
Hanz ficou mudo, seus sentimentos se
confundiram. Imaginou que um grave problema tivesse sido resolvido, mas sabia
que ele poderia tê-lo sido de outra forma caso houvesse tempo. Havia a
possibilidade de fazer com que o espírito que estava atormentando Paulo fosse
convencido a deixar de fazê-lo, mas para isso haveria a necessidade de que o
pobre rapaz fosse controlado. Infelizmente não houvera tempo para isso.
Mesmo abalado ele organizou suas idéias e deu
o aviso.
- É o seguinte Jean, dêem um jeito aí em tudo
e tomem muito cuidado. A polícia esteve aqui em casa, como você pode imaginar,
e eu disse que quem esteve aqui em casa ameaçando-me foi um dos caras que
agrediram o Renzo daquela vez e que o grandalhão saiu em perseguição do cara.
Mas e agora, quanto ao Paulo, o que faremos? Que versão daremos para sairmos
limpos disso tudo? – felizmente Hanz estava no quarto e as garotas, que estavam
na cozinha, não podiam ouvir sua conversa.
- Tô entendendo. Tenho uma coisa em mente já,
vou falar com o Renzo e daqui a pouco eu apareço aí pra combinarmos tudo. Não
conte nada pra ninguém ainda, quando eu chegar aí eu vejo o que vamos fazer.
Deixa que eu cuido das coisas por aqui, fica sossegado. Ainda bem que você
telefonou. Até já. – disse Jean já encerrando a ligação. Tudo teria que ser
acertado rapidamente com Renzo pois havia a possibilidade de a polícia já estar
chegando.
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