terça-feira, 8 de julho de 2014

Capítulo XLI


  No final da tarde Renzo e Hanz estavam na sala assistindo a um filme na televisão, Renzo não demonstrava estar bem disposto para treinar naquele dia e preferiu fazer companhia ao amigo. Puderam ouvir quando o jipe estacionou defronte ao portão.
  Tatiana se mostrava bastante calma mas Cibele ainda carregava em seu semblante a dor pela perda do marido.
  - E aí, o que os dois tão aprontando heim? – brincou Tatiana.
  Renzo que havia ido abrir o portão para que entrassem prosseguiu com a brincadeira.
  - Olha, se eu fosse vocês eu iria embora. Tem umas cinco gatas lá dentro e nós estamos nos divertindo um pouco com elas. Não querem voltar outra hora não? – disse ele segurando Brutus pela coleira evitando assim que ele pulasse sobre elas.
  - Que nada, então agora vocês terão que dar conta de sete porque eu e a Cibele queremos participar da orgia também.
  A amiga não esboçou nenhum sorriso demonstrando que dificilmente ela se animaria, mesmo com as brincadeiras dos dois.
  Já na sala, após os cumprimentos, ainda tentaram manter o alto astral.
  - Chega pra lá Renzo, deixa eu sentar do lado do Hanz, tô te estranhando heim. Você não teve treino hoje não?
  - Ih, sai fora Tati, pode ficar com o mortão aí, ele nem faz o meu tipo. Pô Tati, nem tô com cabeça pra ir treinar hoje não, sem contar que eu não dormi direito ainda, amanhã eu apareço lá na academia.
  - É, amanhã você aparece, o professor vai te esfolar de tanto treino pra compensar sua falta de hoje...
  Novamente risadas puderam ser ouvidas mas logo o silêncio tomou conta da sala ao perceberem que Cibele não estava para brincadeiras.
  Hanz desligou a televisão para que pudessem conversar mais sossegados, aquele aparelho tinha o poder de distrair a atenção das pessoas, muitas vezes, com coisas banais.
  - E como foi lá Cibele? Já tá tudo acertado? Se precisar de alguma coisa é só dizer, você sabe disso.
  - Sim Hanz, o delegado só me perguntou o porquê de estarmos na sua casa, se as coisas tinham acontecido do jeito que vocês disseram, essas coisas... A Tatiana me contou a versão que vocês deram e eu confirmei tudo. A prima da mãe do Paulo tá cuidando da parte do funeral e do enterro, eles tem um jazigo, ele vai ser enterrado lá. O velório será essa noite e o enterro amanhã...
  - Eu entendo a dor que você deve estar sentindo Cibele, nem sei o que te dizer... – comentou Hanz sem graça.
  - Tudo bem Hanz, eu entendo que vocês estejam querendo me animar, mas não tá fácil não. Ainda não consigo aceitar o que aconteceu com meu marido. Poxa, se ele estava sob influência de um espírito Deus deveria punir quem estava fazendo o que não devia e não o Paulo que é inocente nisso tudo...
  Hanz deu um longo suspiro. Ele também já havia se revoltado diversas vezes com alguns acontecimentos de sua vida mas sabia que não adiantava agir dessa forma. Existem coisas que não podem ser mudadas, por mais que queiramos isso.
  - Olha Cibele, eu não sei dizer se ele realmente tava sofrendo alguma influência espiritual, eu só tô concluindo isso baseado nas coisas que vocês me disseram. A mudança de comportamento dele era evidente, mas só quem era bem chegado a ele é que pode dizer se isso estava realmente acontecendo ou não e pelo que você mesma me disse ele nem parecia ser a mesma pessoa com quem você conviveu tanto tempo...
  - É, ele estava muito diferente mesmo. Fazia dias que ele estava agindo de uma maneira fria comigo e com meu filho. Mas foi ontem, quando ele me agrediu, que eu percebi a mudança dele. Os olhos, a voz, o jeito de andar... não parecia ser ele.
  - Eu também notei isso Hanz. Quando nós o encontramos ele estava muito esquisito, muito mesmo. O jeito que ele me olhava, parecia diabólico. A voz dele tava estranha, meio rouca, mais grossa, sei lá... – reforçou Renzo.
  - Então, é por essas e por outras que eu acho que ele estava sob influência espiritual. Vocês, mais que ninguém, perceberam isso.
  - Tudo bem Hanz, mas mesmo que ele estivesse. Por que Deus não castigou o espírito que estava atormentando ele? Por que Deus deixou que ele morresse? Por que ele não fez nada pra proteger o Paulo desse maldito que estava perturbando a cabeça dele? Por que Deus não impediu que ele morresse? – Cibele estava prestes a perder o controle.
  - Calma Cibele, tente ficar calma. Não adianta ficar desse jeito. Eu também já passei por muita coisa terrível na minha vida e aprendi que não adianta se revoltar, ficar assim não vai mudar nada... – Tatiana tentou acalmá-la.
  - Eu só quero entender Tati, só isso. Quero entender o porquê de Deus ter deixado que isso acontecesse...
  - Olha Cibele, muitas vezes, num primeiro momento, não nos é possível entender os desígnios de Deus. Ele age de acordo com um plano já estabelecido quando retornamos para essa existência na Terra e esse plano não pode ser mudado. Tudo já está escrito quando nascemos, tudo já está estabelecido. Desde as provações que temos que passar nessa vida até o momento de morrermos. Nós que estamos aqui não sabemos de nada disso, vamos vivendo nossa vida, procurando fazer o que achamos ser o melhor pra gente e pra quem convive com a gente. Se aconteceu desse jeito é porque tinha que ser assim, não adianta ficarmos revoltados e inconformados com o que acontece. Muitas vezes acontecem coisas ruins em nossas vidas que consideramos não sermos merecedores delas, mas não sabemos até que ponto isso é verdade porque não podemos nos lembrar das coisas que fizemos em outras vidas. Geralmente estamos colhendo os frutos do que plantamos em outras vidas e eles podem ser bons ou ruins, o que temos que fazer é sempre tentar agir da melhor maneira possível, lutando para nos melhorarmos a cada dia e mudar o que está errado...
  Cibele e Renzo choravam baixinho enquanto ouviam as palavras de Hanz. Tatiana parecia surpreendida com o fato do grandalhão também estar sofrendo, mas ficou em silêncio.
  - Então quer dizer que Paulo mereceu o que aconteceu com ele? – indagou a garota.
  - Infelizmente sim Cibele. Nada acontece por acaso, nada. Se foi assim é porque tinha que ser assim. Não podemos julgar os acontecimentos, apenas aceitá-los e fazer de tudo pra que as coisas ruins não aconteçam novamente. Procure não ficar se martirizando, ficar se lembrando do que aconteceu. Isso serve também pra você Renzo. Procurem se lembrar apenas dos momentos de alegria que viveram juntos, dos momentos de felicidade, da amizade, do carinho e do amor que sentiam por ele, dessa forma ele também ficará mais tranqüilo lá no plano espiritual e não ficará sofrendo com esse sentimento de vocês porque com certeza ele reflete na mente dele.
  Um silêncio profundo tomou conta da sala. As lágrimas pareciam ter se atenuado e Hanz ficou feliz em perceber que suas palavras não estavam sendo ditas em vão.
  - Mas e esse espírito que estava perturbando ele? Ele vai ficar impune depois de tudo que ele fez?
  - Não Cibele, fique tranqüila porque isso não vai acontecer. Deus é justo e esse espírito responderá por esses atos dele, nada fica impune, nada é à toa. Tanto as boas como as más atitudes que todos nós temos tanto aqui quanto no plano espiritual são registradas, são as sementes que plantamos, e um dia colheremos o fruto disso tudo. Infelizmente esse espírito devia ter seus motivos para fazer o que fez, mas pagará pelas atitudes dele. Não sabemos quem era e qual a ligação que tinha com o Paulo, talvez em outra vida ele tenha sido prejudicado pelo seu marido, não podemos saber isso agora... Mas nada justifica o mal, nada, e ele pagará pelo que fez, assim como todos nós pagaremos pelas coisas erradas que fazemos na vida. Talvez hoje estejamos todos pagando pelo que fizemos em outra vida, ou até nessa mesmo. É a lei de causa e efeito...
  Todos estavam aprendendo muito com aquelas palavras. Elas traziam explicações para muitas coisas que todos eles vivenciavam no seu dia a dia e não haviam conseguido encontrar explicação até então.
  Tatiana estava de braço dado com Hanz, não parecia mais se importar em esconder seus sentimentos em relação à ele de quem quer que fosse. Estava encantada com as palavras que ouvia, jamais imaginara que Hanz entendesse tão bem desses assuntos.
  - Muita coisa parece ficar clara agora. Não só em relação ao que aconteceu com o Paulo, mas em relação à tudo em minha vida... – falou Renzo baixinho.
  - Hanz, você realmente acredita nisso tudo? Em vida após a morte, em múltiplas existências, ou é apenas uma forma que você usa para tentar sofrer menos? Muita coisa parece ser bem lógica mas algumas são tão fantasiosas... – indagou Cibele que já não mais chorava.
  - Olha Cibele, minha família é católica. Eu comecei a ler alguns livros espíritas quando era bem novo e assim que comecei a entender o que eles diziam tudo aquilo começou a fazer sentido pra mim. Pra mim o que eles diziam tinha mais lógica do que a filosofia que a religião que minha família segue. Aos poucos fui estudando mais e mais sobre o assunto. Fui atrás de mais e mais livros e cada vez mais me convenci de que essa é a verdadeira realidade, e não a de que quando morremos ficamos esperando inertes o retorno do Salvador. Seria muito pouco se a vida fosse somente essa que temos agora. Se assim o fosse Deus não seria justo não acha? E eu já presenciei fenômenos físicos que se não forem olhados pelos olhos do espiritismo eu não encontro outra explicação, como o que fez eu cair ontem por exemplo.
  Cibele manteve-se pensativa por uns instantes até que respondeu.
  - É verdade, você contou... E olha, se a vida se baseasse apenas nessa que temos agora Deus não seria justo não. Por que ele deixaria que algumas pessoas nascessem com tudo na vida enquanto outras não tem nada? Por que ele permitiria que algumas pessoas nascessem com problemas de saúde, deformidades e tal, enquanto outras nascem perfeitas? Não seria justo isso.
  - Acho que você está entendendo Cibele, fico feliz com isso.  Pô, tem que haver uma explicação justa pra isso tudo. Se nascemos pobres ou com alguma deficiência é porque devemos ter feito alguma coisa muito grave em outra vida para merecermos isso não é verdade? Ou será que um Deus que todos dizem ser tão justo e bondoso faria sorteios para escolher quem nasceria rico e quem nasceria pobre? Não haveria bondade nenhuma nisso. Somos nós mesmos quem escolhemos o tipo de vida que teremos quando voltarmos a viver aqui na Terra, no plano material. E escolhemos isso tudo sabendo que há a necessidade de passarmos por essas provações para evoluirmos até chegarmos num estágio em que a gente não precise mais voltar aqui pra Terra.
  - Então quer dizer que chega uma hora que não temos mais que reencarnar fiote?
  - É isso aí Renzo, quando já não temos mais dívidas pra pagar, quando já fizemos tudo o que tínhamos que fazer aqui no plano material não precisamos mais reencarnar, não precisamos mais voltar a viver aqui e ficamos somente no plano espiritual, trabalhando lá. Tem casos de espíritos já bem evoluídos que, com a permissão de Deus, retornam aqui pro plano físico por vontade própria, mas com missões sublimes e não a passeio.
  - Então é a gente quem escolhe a forma como vamos viver aqui na Terra? – indagou Tatiana.
  - É Tati, somos nós quem escolhemos sim. Claro que precisamos já ter um certo grau de evolução pra isso e que tudo acontece de acordo com nosso merecimento. Um cara cruel e maldoso jamais terá muita liberdade de fazer essas escolhas, ele terá que colher os frutos do que plantou aqui na Terra ou até mesmo em sua existência espiritual. É como esse espírito que estava prejudicando o Paulo, ele não fez maldade apenas aqui no plano físico, ele também continuou com suas maldades enquanto estava no plano espiritual e terá que pagar por tudo o que fez.
  - Ouvi dizer que existem espíritos que não entendem que já morreram ou que não aceitam isso e que continuam aqui entre nós achando que ainda estão vivos. É verdade isso Hanz?
  - É sim Cibele. Em casos de mortes repentinas por exemplo. Tudo acontece tão rápido que a pessoa não entende que já desencarnou, ela acha que continua vivendo aqui entre nós. Mas isso normalmente acontece com pessoas que não conhecem a doutrina espírita, que não acreditam na vida depois da morte ou que não são merecedoras da assistência espiritual que todos nós podemos receber ao desencarnar.
  - Assistência espiritual, o que é isso? – prosseguiu ela.
  - É, assistência espiritual. Existem espíritos que vêem até nós quando nos desligamos do nosso corpo físico para nos levar até o plano espiritual no qual devemos passar nossa vida espiritual. Normalmente são parentes nossos, ou amigos, que já desencarnaram e que possuem o devido preparo pra isso. Mas existem pessoas que não merecem essa ajuda, ou que não a aceitam, por isso permanecem aqui vagando até se conscientizarem por si próprios de sua nova condição, e isso pode levar bastante tempo...
  - Mas por que tem gente que não merece essa ajuda? – perguntou Renzo.
  - Dificilmente alguém é tão ruim a ponto de não merecer essa ajuda, mas há casos extremos em que isso acontece. Normalmente são pessoas movidas pelo ódio, pela vingança, ou que são muito apegadas às coisas materiais, e vendo que se deixarem o plano físico perderão o que lutaram tanto para ter ou que não poderão mais se vingar de quem desejam, eles preferem continuar aqui. E aqui ficam até entenderem que estão perdendo o tempo deles. Os que desejam continuar com aquilo que conquistaram, as coisas materiais como dinheiro, carro, etc um dia vão perceber que aquilo tudo não é mais deles e aqueles que decidem ficar por aqui em nome da vingança percebem que estão agindo de maneira errada, apenas agravando ainda mais a situação deles. Isso pode ser rápido ou bastante demorado, depende de cada um...
  Hanz foi interrompido pelo telefone que tocava e ao atendê-lo descobriu que era Jean.
  Foi fácil perceber que a paz que reinava naquela sala diante de tudo que era explicado foi quebrada pelo telefonema. Cibele evidentemente nutria ódio por aquele que tinha tirado a vida de seu marido, seu olhar denunciava isso.
  Tatiana foi até a cozinha e trouxe latas de refrigerante para todos enquanto Hanz estava ao telefone.
  Jean ficou a par de tudo. As coisas estavam sob controle e o velório de Paulo se daria naquela noite. Ele disse que não compareceria porque não achava prudente que todo o grupo fosse visto reunido, mas pediu que Hanz desse as condolências a Cibele, mas assim que o fez os sentimentos da viúva tornaram-se claros.
  - Eu agradeço por ele se preocupar comigo, mas não queria mesmo que ele fosse ao velório do meu marido, foi ele quem o matou.
  Hanz, surpreendido, novamente suspirou fundo e passou a dar novas explicações.
  - Cibele, eu sei que é complicada essa situação mas procure entender que Jean apenas defendeu a si e ao Renzo. Procure pensar que não foi em Paulo que ele atirou mas sim naquele que havia tomado conta dele. Eu sei, não é fácil, mas parece que essa é a verdade.
  - É Cibele, o Jean fez o que pôde pra tentar controlar o Paulo mas não conseguiu. Ele atirou depois que Paulo atirou contra ele, ele fez isso pra se defender e acho que o próximo alvo seria eu se Jean não tivesse feito o que fez. – explicou Renzo tentando também acalmá-la.
  Cibele ficou em silêncio, pensando nas palavras dos amigos.
  - Eu sei que é difícil encarar as coisas desse jeito Cibele, mas é a verdade. Era o Paulo ou eles. E depois deles, quem mais poderia ser? Algum de nós eu acho. – arrematou Tatiana.
  - Vocês tem razão, desculpa. Mas é difícil, é como se a emoção lutasse contra a razão. A emoção me diz uma coisa, ela me mostra a dor, o sofrimento... e a razão me mostra isso tudo que o Hanz está me explicando, me desculpem...
 - Tudo bem Cibele, nós sabemos que não tá sendo fácil pra você. Na verdade não está sendo pra ninguém, mas com você deve tá sendo pior. – disse Hanz.
  Tatiana consultou o relógio.
  - Acho que já tá na hora de irmos andando, já tá anoitecendo, a noite vai ser longa...
  -É mesmo Tati, ainda tenho um velório pra ir hoje... disse Cibele se levantando.
  -Tudo bem se você for dirigindo pra casa Ci? O Renzo me leva, eu ainda quero conversar uns negócios sobre a Bianca com ele...
  Renzo arregalou os olhos, o que sua namorada tinha a ver com aquilo tudo?
  - Tudo bem Tati, a gente se encontra lá no velório então. Olha pessoal, obrigada por tudo que vocês tem feito por mim, nunca vou saber agradecer a vocês por isso tudo.
  - Não precisa agradecer Cibele, amigos são pra essas coisas. Você não imagina o quanto eu fico feliz em ver que você está mais calma depois de tudo o que eu expliquei. Mais tarde eu e o Renzo também vamos lá no velório tá?
  - Tá bom, a gente se vê lá então...
  Os amigos se despediram e Renzo não conseguia disfarçar a tensão que o invadia depois do que Tatiana havia dito sobre Bianca.
  Assim que a viúva foi embora os três voltaram para dentro de casa e prosseguiram com a conversa.
  - Pô Tati, o que você tem pra falar da Bianca? Ela aprontou alguma coisa que eu não tô sabendo é? – adiantou-se Renzo logo que voltaram para a sala.
  - Nossa, você é besta mesmo heim Renzo. Não tenho nada pra falar da sua namorada não, foi só uma desculpa pra eu ficar aqui sozinha com vocês, não queria conversar sobre o assunto na frente da Cibele.
  - Ufa, ainda bem!! – suspirou aliviado o grandalhão jogando-se na poltrona.
  - Mas que assunto é esse? Aconteceu alguma coisa que a gente não tá sabendo Tati? – indagou Hanz preocupado.
  - O delegado disse pra vocês que uma mulher foi assassinada perto da faculdade e que a descrição que fizeram do carro é a mesma do carro do Paulo?
  - Disse sim Tati. Eu e o Renzo já conversamos disso, você acha que pode ter sido ele? – indagou Hanz.
  - Era por isso que eu não queria que a Cibele estivesse aqui quando a gente falasse disso, mas eu acho que sim. O que ele ficou fazendo naquele tempo que saiu da casa dele até a hora que ele apareceu aqui na sua Hanz?
  - É verdade, tudo leva a crer que foi ele mesmo... Mas a versão que demos pra polícia serve como álibi pra ele, mesmo depois de morto.
  - Só se algum vagabundo lá do bar que ela trabalhava reconhecer ele em alguma foto, daí ferrou tudo. – completou Renzo com ar preocupado.
  - É, se ele tá morto a polícia não vai poder fazer nada mesmo, o problema é que isso pode criar alguma suspeita sobre a versão que a gente deu sobre o que aconteceu. A gente disse que todo mundo tava aqui na sua casa, mas se ele for reconhecido por algum testemunha vamos falar o quê?
  - Ué Tati, vamos manter nossa versão custe o que custar. Será nossa palavra contra a dele. Não podemos fazer outra coisa. – reafirmou Hanz.
  - É isso mesmo, e aposto que nossa palavra tem mais credibilidade do que a daqueles vagabundos que ficam enfiados lá. O delegado e os policias tem muita consideração comigo, ainda bem. Mas porra, pro Paulo chegar ao ponto de se enfiar naquele pulgueiro e ainda pegar uma vadia de lá é porque ele não tava legal mesmo não, todo mundo sabe que aquilo é um antro, ele nunca ia se enfiar lá...
  - Aquilo é podre mesmo, tá loco... – concordou Hanz fazendo cara de nojo.
  - O carro do Paulo tá na perícia, eles devem liberar ele acho que amanhã. Mas acho que não vão encontrar nada de anormal... – acrescentou Tatiana abraçando Hanz pelo pescoço.
  - É, acho que não mesmo. O Jean que pegou as coisas do carro dele, os explosivos e tal. Só se tiver ficado alguma coisa da vadia no carro dele, mas acho difícil. – completou Renzo.
  - Bom, o jeito agora é rezar pra que não encontrem nada mesmo, não podemos fazer mais nada agora... seja o que Deus quiser. – disse Hanz.
  - Só que isso só confirma o que nós já tínhamos quase certeza: o Paulo não tava no juízo perfeito não e se o Jean não tivesse dado um jeito nele poderia ter acontecido coisa pior. – concluiu Tatiana.
  - Fiquei impressionado com a frieza do Jean, ele nem se abalou quando matou o cara, pra ele parecia que não tinha acontecido nada...
  - Ele foi militar né Renzo, é por isso. Esses caras não se abalam com essas coisas não, ainda mais sendo que ele tava correndo risco de vida, ele não pensou duas vezes não... – explicou Tatiana.
 Renzo só agora tinha notado o chamego de Hanz e Tatiana e não pôde perder a oportunidade de tirar um sarro dos dois.
  - Hum... que bonitinho o casalzinho... Pô, fico feliz que vocês estejam se acertando, eu cansei de encher o saco do Hanz pra ele ficar com você Tati, mas ele parecia meio aboiolado...
  Tatiana não se conteve e caiu na gargalhada.
  - Dá pra você calar a boquinha dá? Você vai ver só quem é aboiolado... – revoltou-se Hanz participando da gozação.
  Os três mesmo diante de tantos acontecimentos funestos e do perigo que de certa forma ainda estavam correndo conseguiam manter o alto astral.
  - Olha, tudo tá muito bom, mas se você quiser uma carona mesmo Tati é melhor ir largando do pescoço do mocorongo aí porque eu tô indo nessa. Quero passar na casa da Bianca antes de ir pra casa pra ver se ela vai querer ir no velório também.
  - Você é um estraga-prazeres maldito heim meu!!! – disse Hanz agarrando Tatiana e fazendo uma cara de dor devido ao esforço.
  - Estraga-prazeres, eu? Fala sério né fiote, você acha que ia fazer alguma coisa todo ferrado aí? Você nem consegue se mexer direito!! Vamos Tati, deixa o aleijadinho aí... disse Renzo se levantando e abrindo a porta.
  - Tá bom chatão. Você consegue se arrumar sozinho Hanz? – indagou Tati dando-lhe um selinho.
  - Ah, eu dou um jeito, mas não se preocupa não. A gente se vê lá no velório então tá Tati? – Hanz retribuiu o selinho antes de Tatiana se levantar do sofá.
  - Tá certo então, até daqui a pouco. Vamos logo então Renzo seu xarope, ô cara chato!!! – disse ela empurrando o grandalhão pro quintal com bastante dificuldade.
  - Calma aí pô, tá querendo me machucar é? – arrematou Renzo com ar debochado.
  Logo Hanz estava sozinho novamente. Brutus havia ficado no quintal como de costume e ele foi se banhar, o que fez com bastante dificuldade evitando molhar o braço enfaixado.
  Não demoraria muito para que os amigos se encontrassem novamente mas infelizmente um deles não poderia mais participar das animadas conversas de costume...

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